Segundas intenções

09/11/2018

Pergunte a qualquer um dos professores de Educação Física do Vital, e todos dirão o mesmo: o objetivo do Colégio não é formar nenhum craque, nenhum ás neste ou naquele esporte. Claro que eles gostarão de ver um aluno fazendo um gol, um passe bem-feito, uma bela manobra no skate, um disparo preciso da flecha no alvo. A qualquer ponto ou vitória obtida, eles vibrarão junto.

Mas técnica e rendimento não são as prioridades do projeto pedagógico. Antes de serem um fim em si mesmas, as atividades propostas pelos professores de Educação Física são um meio. De promoção de habilidades motoras, sim, mas também de habilidades cognitivas e socioemocionais – como resolução de desafios, estabilidade emocional, autonomia e cooperação –, bem como um meio de acesso a conhecimentos e culturas diversos, além de fonte de simples e puro prazer. Da primeira brincadeira de chutar bola no Maternal a um circuito de parkour no Ensino Médio, as verdadeiras intenções dos professores do Vital vão além das atividades em si.

“O que a gente busca é que o aluno tenha o maior número de experiências motoras”, diz o professor de Educação Física Fábio Oliani, que dá aulas em dupla com a professora Larissa Wosniak no Ensino Fundamental II e no Médio. “Não é formar atletas, é aumentar acervo motor”. Em síntese, esse cuidado com a variedade de vivências e movimentos é fio condutor do trabalho de toda a equipe de Educação Física, por meio do qual outras expectativas de aprendizagem são alcançadas. A começar pelas aulas do professor Wal Giglio, responsável pela Educação Infantil e pelo 2º ano da manhã.

Segundo Wal, os jogos e brincadeiras implementados do Maternal em diante seguem uma sequência pedagógica que respeita o desenvolvimento da criança, que vai aprendendo a executar e a combinar movimentos progressivamente mais complexos. “Na natação, por exemplo, esperamos que alunos de Maternal e Pré I coloquem o rosto na água e façam bolhinhas pelo nariz; de Pré II, que tenham flutuabilidade de frente e de costas; de 1º ano, que saibam flutuar, bater perna e rodar os braços”.

No processo, diz o professor, os alunos exploram os espaços do Colégio de forma lúdica – não apenas a piscina, mas o pátio, o bosque, a quadra, o parquinho, até o alambrado que divide os dois. “É a brincadeira do Homem-Aranha; faço eles subirem no alambrado para terem essa vivência da ‘pegada’”, diz Wal. “Hoje em dia, criança não sobe mais em árvore; precisa ver a alegria deles”. Parece simples, mas saber agarrar, escalar, correr, chutar, sobrepor obstáculos, rolar – até mesmo saber cair – são habilidades que servirão de fundamentos para a criança por toda a vida.

Autonomia e cooperação
Avançando para o Pré II e o 1º ano, as brincadeiras buscam enfatizar competências psicomotoras, como equilíbrio e lateralidade, essenciais para a aquisição da escrita e da leitura (trabalho feito em alinhamento com as professoras regentes e o professor de Psicomotricidade). Até que, por volta do 2º ano, o foco nos jogos em equipes vai se acentuando. É o momento, segundo o professor Fausto Camargo, responsável pelo 2º ano da tarde e pelo 3º e 4º anos, em que a criança começa a sair da fase egocêntrica e a trabalhar em equipe. Essa não é a única habilidade socioemocional que os jogos promovem.

Em partidas de queimada, pique-bandeira ou jogos afins, os alunos precisam criar estratégias e se comunicar com os companheiros de time. Precisam também, e isso é novo para eles, lidar com a frustração da derrota. Antes dessa idade, a maioria ainda nem sabe exatamente como ou por que perdeu – o que remete a outro aprendizado importante: o do entendimento de regras. “No 2º ano, a gente senta com eles, explica regra por regra. Por volta do 3º, 4º ano, nós só precisamos fazer simples intervenções; eles já estão praticamente autônomos”, diz Fausto Camargo.

E autônomos é como se espera que eles cheguem para o professor Almir de Oliveira, do 5º ano. É quando a Educação Física passa a explorar modalidades esportivas clássicas, como basquete, futsal, handebol, vôlei e atletismo (a natação, desde o Maternal, é exceção). É com o professor Almir que os alunos aprendem formalmente as regras, nomenclaturas e práticas desses esportes, mas, idealmente, eles já chegam ao 5º tendo exercitado diversos fundamentos – chutes, lançamentos, arremessos, recepções, etc. – nos jogos e brincadeiras dos anos anteriores.

Teoria e prática
Até aqui, o aluno é avaliado em três aspectos: atitudinal (seu comportamento em aula), conceitual (seu entendimento da atividade) e procedimental (seu desempenho).

Quanto ao último item, os professores ressaltam: nenhum aluno é avaliado em comparação à performance de outro, mas ao seu próprio histórico. “Mesmo o aluno menos habilidoso está lá se esforçando, melhorando o seu desempenho, evoluindo”, diz Wal.

A partir do 6º ano, um novo elemento é acrescentado à Educação Física: aulas teóricas. Segundo a professora Larissa, 20% do programa passa a consistir em aulas em classe – assim como 20% da avaliação contínua virá de testes escritos –, sobre temas que vão do aparelho locomotor, no 6o ano, a conteúdos bastante avançados, como biomecânica ou teoria do treino de força, na 2ª série do Médio.

Na verdade, afirma Larissa, toda aula sua começa em sala, onde a professora dedica alguns minutos para contextualizar, na lousa ou com recursos audiovisuais, a atividade a ser praticada. Em uma aula de arco e flecha, por exemplo, os alunos assistem a vídeos sobre instrumentos pré-históricos de caça e costumes indígenas; já aulas dedicadas a danças – como o samba rock ou o coco – são oportunidades de aprender sobre as culturas da periferia paulistana e do nordeste brasileiro.

Ao longo de todo o percurso do Maternal ao Médio, chama a atenção a variedade de esportes, jogos e brincadeiras promovidos pelo Vital nas aulas de Educação Física: parkour, skate, arco e flecha, bocha, taco, danças; a cada ano, uma nova atividade é incluída. É essa variedade que permite aos professores promover diferentes objetivos – tomada de decisão, autoestima, socialização, equilíbrio, ritmo, etc. – e diferentes conhecimentos – científicos, culturais, sociais. E permite aos alunos que, tendo vivenciado de tudo um pouco, percebam do que são capazes, do que gostam e o que seguirão fazendo em suas vidas.