O dom da palavra ao alcance de todos
24/06/2019
Nas aulas de Produção de Texto, escrever bem é resultado de repertório, reflexão e prática.
Em outubro de 2016, uma verdade conhecida pela equipe pedagógica do Colégio Vital Brazil se tornava fato comprovado nacionalmente: os alunos do Vital sabem escrever bem. Com média de 830,7 na Redação do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) do ano anterior, o Vital foi considerado o melhor texto entre as escolas da Cidade de São Paulo, segundo lugar no estado e 40º no País. Era apenas a segunda turma de concluintes do Colégio, que desde então tem obtido médias superiores a 800 na Redação do Enem – incluindo 863,0 no ano passado, seu melhor desempenho até hoje (o ranking do Enem 2018 só será divulgado no meio do ano).
Índices como esses não vêm por acaso nem se explicam pela concentração improvável de talentos. Até porque se há uma convicção que norteia os professores de Produção de Texto do Vital é a de que escrever bem não é questão de talento, mas sim resultado de repertório, reflexão e prática. Um processo que pode ser ensinado sistematicamente e que, no Vital, ganha relevo a partir do 6º ano do Fundamental.
Pela proposta do Colégio, até o 5º ano os alunos entram em contato com – e produzem – diversos tipos de texto (narrativo, descritivo, injuntivo, etc.) e gêneros textuais (contos, poemas, notícias, receitas, etc.) nas aulas de Língua Portuguesa. É a partir do 6º ano, porém, que a matriz curricular reserva aulas específicas para a Produção de Texto, duas em sequência por semana, independentes das aulas de Português. Do 7º ano em diante, as duas disciplinas já não têm nem os mesmos professores ou livros didáticos.
A mudança tem alguns propósitos. O primeiro é garantir consistência e continuidade, ao longo do Fundamental II, a um projeto que atenda às necessidades específicas da disciplina, que é um campo de conhecimento próprio. Como afirma a professora Cristina Spechoto, do Grupo de Oficina de Redação de 8º e 9º anos, “o que o aluno aprende nas aulas de Língua Portuguesa é um dos instrumentos da produção de texto, mas não o único. Outros são leituras de qualidade, interpretação, construção argumentativa, técnicas de escrita em geral”. Escrever certo, diz ela, não basta para escrever bem.
As folhas de redação utilizadas a partir do 6º ano evidenciam isso. Elas trazem listados no verso 30 critérios para a correção de textos, dos quais apenas 10 dizem respeito à norma culta da língua (ortografia, regência e concordância nominais e verbais, uso pronominal, etc.). Os outros 20 vão da apresentação da redação (ausência de rasuras, boa caligrafia, respeito às margens e ao limite de linhas, etc.) a critérios de estilo (uso de gírias, clichês, repetição de palavras, etc.), conteúdo e desenvolvimento (adequação ao tema e tipo redacional, originalidade, clareza, etc.) e estrutura (paragrafação, uso de conectivos, coesão, etc.).
A lista de critérios é ferramenta fundamental, primeiro porque ajuda o aluno a identificar os pontos fracos de seu texto; segundo, ela o faz ver que é possível
determinar objetivamente se um texto é bem ou mal escrito. Que dois corretores distintos, com base nos mesmos critérios, chegarão a avaliações muito próximas sobre a qualidade de um texto. O que, aliás, de fato acontece no Vital.
Escrever é parte do processo
No Vital Brazil, toda redação do 6º ano em diante é avaliada duplamente: uma vez por um corretor externo, outra pelo professor (a ordem pode ser inversa). Na primeira revisão, o aluno tem a chance de ver as marcas e comentários do primeiro corretor, refletir sobre eles e produzir uma segunda versão, aprimorada, de seu texto.
Além de ressaltar o valor da revisão para o processo (nenhum texto sai “redondo” de primeira, todo autor precisa de um olhar externo), o expediente amplia, na prática, o quanto o aluno escreve ao longo do ano. Considerando-se duas versões de cada texto, o aluno do Vital produz, no mínimo, 30 redações por ano. (Ou 45, se considerados os rascunhos que os alunos são instruídos a fazer em folha à parte, para propiciar uma [auto]avaliação inicial e prevenir rasuras no documento definitivo).
Isso sem falar nas Oficinas de Redação – aulas extracurriculares oferecidas para alunos de bom desempenho escreverem ainda mais e em gêneros ainda mais diversos, como programas de TV, peças de teatro, textos de comédia stand-up, etc. – ou no Programa Especial de Estudos – para os que precisam de atenção extra dos professores, a fim de superar dificuldades. Mas prática, por si só, também não faz um bom texto.
Segundo o assessor de Língua Portuguesa e Produção de Texto do Vital, Tiago Gomes, toda aula começa com discussões teóricas sobre o gênero trabalhado (o que é um conto, como se apresenta o diálogo entre personagens, qual a voz do narrador, etc.), reflexões sobre o repertório dos alunos (o que sabem a respeito de um fato que precisam noticiar, onde buscar e verificar informações, etc.) e, principalmente, leituras. “Não se cria texto do zero; é preciso ler antes, refletir, discutir. Escrever é apenas parte do processo”, diz o assessor.
À medida que se aproxima o Ensino Médio, repertório e reflexão são ainda mais importantes para a fundamentação de boas opiniões. É nesse ponto, diz Tiago, por volta do 9º ano, que o aluno já domina a estrutura dos mais variados gêneros textuais (“ele já produz qualquer tipo de texto com intenção e técnica”) e pode, no Médio, seguir treinando e enriquecendo sua escrita, agora com foco em textos argumentativos e propostas de intervenção positiva na sociedade, competência exigida nas redações da maioria dos vestibulares e do Enem. O que, já está provado, os alunos do Vital fazem muito bem.