No rumo certo

26/10/2018

Manuela Bruni admite: até alguns meses atrás, a ideia de escolher uma profissão ainda não lhe havia ocupado a cabeça. “Eu pensava: ‘Ah, tem três anos ainda para decidir’”, diz a jovem, aluna do 9º ano do Fundamental. Para ela, a iminência do Ensino Médio do Vital, com três dias de período integral por semana, causava-lhe mais apreensão. “Eu tinha medo de ter muita coisa para estudar, de perder meu tempo livre”, conta Manuela, que já vinha revendo seus hábitos de estudo desde o início do ano, quando sentiu que ir aos livros só em véspera de prova, como costumava fazer, já não seria suficiente. Ainda assim, havia o receio de que as demandas do Médio fossem pesadas demais.

Até que uma sequência de atividades conduzidas pela coordenadora assistente do Fundamental II, Maria Cristina Campos, com as turmas de 9º ano, fez a aluna ver a questão sob outra perspectiva. Começou com um questionário simples, que incitava os alunos a pensar um “projeto de vida”. O que significava para cada um “ter um plano, uma meta, para o futuro”? A coordenadora não queria nem esperava respostas definitivas sobre escolhas profissionais. Mas trazer o assunto à mente – começar a pensar aonde se quer chegar – poderia produzir um efeito positivo na forma como aqueles jovens de 14 e 15 anos encarariam os desafios mais imediatos do Ensino Médio. Talvez não mais como sacrifícios, mas como o caminho certo a tomar. “Ter uma perspectiva de futuro é uma forma de identificar quais ações devem ser feitas no presente”, diz a coordenadora.

Batizada de Projeto de Vida, a sequência de atividades conduzidas por Maria Cristina é uma das frentes de um trabalho da Coordenação que visa facilitar a transição dos estudantes para o Ensino Médio. Como coloca o coordenador do Fundamental II, Roberto Leal, o primeiro fruto dessa frente é dar sentido ao esforço extra que eles terão de fazer no novo ciclo. “Um aluno que tem planos de cursar uma universidade de qualidade vê com mais clareza por que precisará dedicar mais horas aos estudos, abdicar de algumas distrações”, diz.

O testemunho de Manuela Bruni corrobora as palavras do coordenador. “[O projeto] me ajudou a ‘abrir o olho’. Agora, sei que não posso perder tempo”, diz a aluna, que afirma querer cursar Psicologia. Já Leonardo Silvestre, seu colega de turma, vê-se mais inclinado para a área de Exatas. Também ele se sentiu motivado pela reflexão sobre o futuro proposta pela Coordenação: “Acho que me ajudou quando eles perguntaram: ‘O que vocês se imaginam fazendo? Vocês realmente sabem o que envolve essa escolha?’ Porque aí eu fui atrás de pesquisar algumas opções”, diz o aluno, que, por ora, planeja cursar Engenharia Mecânica. Mas será que não é, de fato, muito cedo? E se Manuela e Leonardo mudarem de ideia nos próximos anos?

É aí que entra um segundo fruto, mais duradouro, do projeto. Uma vez considerados os planos de cada aluno, a atividade seguinte envolveu um exercício de autoavaliação que os ajudava a ter uma visão mais ampla de como vinham conduzindo seu dia a dia. “Foi quando eu apresentei a Roda da Vida para eles”, conta Maria Cristina.

Protagonistas do próprio crescimento
A Roda da Vida é um diagrama simples. Uma circunferência com raios partindo de seu centro, cada raio formado por uma sequência numérica de 1 a 10, correspondente a algum quesito: Família, Escola/Notas, Relacionamentos, Saúde/Bem-Estar, Lazer/Diversão, etc. O objetivo é que cada aluno, individualmente, reflita sobre o peso que dá às diversas áreas de sua vida e lhe atribua um valor. O recurso gráfico já faz a maioria perceber, de forma mais clara do que com palavras, o que é necessário para se chegar a um equilíbrio.

“A meta não é pontuar 10 em tudo”, diz Maria Cristina. “Se você dedica todo o tempo aos estudos, vai lhe faltar o descanso necessário, o que não é bom; o contrário, tampouco. A questão é dar ferramentas e treiná-los a pensar: ‘Considerando minhas metas, qual aspecto da minha vida preciso trabalhar mais?’ E então eles traçam estratégias de ação”. O mais importante: ninguém tem de exibir a sua Roda da Vida. “É deles, fica com eles. Respeitamos a privacidade e a individualidade dos alunos, até porque o objetivo é que eles sejam os protagonistas de seu crescimento”.

Em outras palavras, se Manuela e Leonardo vierem a mudar de ideia sobre o que querem na vida, eles já estarão um pouco mais preparados para tomar esse tipo de decisão.

Mais preparados e mais tranquilos, já que um terceiro fruto do exercício de pensar o futuro foi o de desfazer ansiedades que poderiam crescer se o tema fosse ignorado. “No questionário aplicado, perguntamos com que frequência os alunos conversavam sobre o assunto”, diz a coordenadora assistente. “Parte expressiva deles não havia conversado com ninguém, nem com amigos, nem com familiares, nem com professores. Eles estavam felizes só de estarem discutindo o tema, pois estavam sedentos de informação”.

“O não falar é que faz o medo crescer”, diz Roberto Leal. “Além disso, mostramos com dados – as médias da turma – como eles estão tão preparados para o futuro quanto os alunos que vieram antes deles. O efeito foi realmente visível”.