Construindo ideias e parcerias
26/10/2018
Fazer Ciência é aprender o valor do trabalho coletivo. Já no século XVII, Isaac Newton dizia que, se ele havia enxergado mais longe, era por ficar de pé sobre os ombros de gigantes. Sem as descobertas e invenções de seus antepassados, reconhecia Newton, ele mesmo não teria sido capaz de muita coisa.
No início de outubro, Vitor Malavasi, aluno da 1ª série do Ensino Médio do Vital Brazil, apresentou sozinho seu projeto de sensor de vazamento de água na 6ª edição da Cienciarte – Mostra de Ciências e Cultura do Colégio. Mas Vitor, como Newton, apoiou-se sobre o trabalho de alguém que lhe antecedeu: sua irmã, Marina Malavasi.
Hoje aluna da 3ª série do Médio, Marina e duas colegas – Priscila Lacerda e Naomi Tominaga – participaram da Cienciarte no ano passado com um aparelho que alertava se uma torneira com defeito ou mal fechada começasse a pingar. A solução das meninas era engenhosa: instalado na borda de uma pia, o aparelho emitia vibrações ultrassônicas em direção ao centro; como o sonar de um morcego, o sensor media a distância percorrida pelas ondas até encontrarem algum obstáculo e retornarem. Se o obstáculo fosse detectado exatamente no centro da pia – nem um centímetro antes, como ocorreria se houvesse mãos sendo lavadas, nem depois –, tratava-se de um fio de água.
Então, neste ano, Vitor viu um modo de aprimorar o projeto da irmã. Embora o sensor criado por Marina e suas colegas emitisse um alerta sonoro e luminoso ao detectar o vazamento d’água, o jovem considerou que seria mais útil alertar o usuário que não estivesse próximo à pia. Assim, ao aparelho original Vitor acoplou uma espécie de roteador que o conectava à internet, programando-o para enviar um SMS a um telefone celular quando a torneira estivesse pingando. “O alarme chega à pessoa onde ela estiver, e isso deixa o sistema autônomo”, diz o aluno.
Cultura colaborativa
Se Vitor Malavasi utilizou a Mostra de Ciências para aprimorar o projeto da irmã, o ex-aluno Lucas Persico teve a oportunidade de fazer o mesmo com uma ideia própria. Em 2014, ele e dois colegas, Victor Benito e Juan Fernando Cortes, então na 1ª série do Médio, fabricaram um par de óculos para cegos, cujas hastes vibravam ante a proximidade de obstáculos.
A ideia de um equipamento para deficientes visuais havia inspirado um projeto anterior de Lucas, em parceria com outro colega. No caso, um par de sapatos que detectasse objetos no caminho. Mas a invenção não saíra como esperado. “Usar o sensor nos pés gerou complicações devido à distância em relação ao solo. O projeto deu parcialmente certo”, diz Lucas, que não desistiu do conceito.
Um ano depois, montou nova equipe, com Victor e Juan Fernando. Decidiram seguir a mesma ideia, mas com duas alterações. A primeira: em vez de sapatos, um par de óculos, com sensor e motor Vibracall ao lado de cada lente. A segunda mudança no projeto original foi a tecnologia utilizada. Se na primeira tentativa Lucas havia trabalhado com um microcontrolador da Lego, dessa vez o grupo usou o Arduino – uma plataforma de prototipagem mais avançada, mas ainda relativamente acessível para leigos (foi a mesma tecnologia usada pelos irmãos Malavasi).
Composto de uma placa de circuito com microcontrolador, o Arduino pode ser conectado a diversos tipos de sensores – de luz, de som, de toque, de calor, etc. – e programado para reagir conforme o propósito do projeto. “O Arduino dá muitas possibilidades; é bem simples e tem muitas bibliotecas disponíveis on-line”, diz Victor, referindo-se a programações de funções específicas (soar alarme, ligar e desligar aparelhos, etc.) já escritas e disponibilizadas gratuitamente na internet, por pessoas adeptas à cultura colaborativa de software e hardware livres, defendida pelos criadores do Arduino.
Os óculos funcionaram. E, ainda que não fossem o mais elegante dos aparelhos – “a placa ficava atrás da cabeça, pendurada por fios”, reconhece Victor –, deram ao grupo uma medalha de prata na Cienciarte e o direito de expor na MOP – Mostra Paulista de Ciências e Engenharia – daquele ano.
A aptidão em programação também rendeu frutos para Luisa Andrade, Renata Quadros, Sophia Pereira, alunas da 1ª série do Médio, e Letícia Gouvêa, do 9º ano. Em junho, o quarteto participou de etapa seletiva da competição Arduino Challenge, do Instituto Nacional de Telecomunicações (Inatel). Reunindo estudantes de todo o País, trata-se de um desafio entre equipes, que devem programar um carrinho-robô para diversas tarefas: buzinar, piscar faróis, fazer um trajeto, estacionar, etc.
Na seletiva, as quatro fizeram o menor tempo entre as equipes do Vital, conquistando vaga na final, em outubro, na sede do Inatel, em Santa Rita do Sapucaí (MG). Por si só, o contato com o mundo da robótica já foi um valioso prêmio. “Depois da competição, comecei a pesquisar, comprei livros de [linguagens de programação] HTML, Java…”, diz Sophia, que, como Letícia, diz-se inclinada a uma carreira nas Ciências Exatas.
Mesmo para quem não atue na área, contudo, compreender a lógica e as possibilidades da tecnologia digital é diferencial cada vez mais importante no mundo atual – motivo pelo qual o Vital vem promovendo workshops de Arduino e participações de alunos em tais competições há algum tempo. Trata-se, afinal, de um campo que promove competências como iniciativa (fazer você mesmo), imaginação (idealizar um projeto), persistência (testar, corrigir, aprimorar), valorização do conhecimento e do trabalho coletivo. Tudo o que a Ciência, em suma, melhor representa.