O homem das cavernas

11/12/2019

Professor de Química e aprendiz de espeleólogo, Paulo Guilherme Campos descobre o que as cavernas têm a ensinar.

“Gostei do mundo subterrâneo”, diz Paulo Guilherme Campos. A frase do professor de Química do Vital Brazil refere-se a uma paixão recente: as cavernas. Como um dos responsáveis por acompanhar a saída pedagógica dos alunos da 2ª série do Ensino Médio, todos os anos, ao Parque Estadual Turístico do Alto Ribeira (Petar), Paulo já tinha entrado em contato com o mundo das cavernas, desde a primeira edição do projeto. Localizado no Vale do Ribeira, quase na divisa de São Paulo com o Paraná, o Petar abriga em seus 36 mil hectares cerca de 400 cavernas. No início do ano, porém, o professor decidiu se aprofundar no assunto.

Em março, Paulo passou a integrar o Grupo Pierre Martin de Espeleologia. Segundo o professor, a especialidade, ao contrário do que se imagina, não é uma ciência, mas uma atividade que mistura várias modalidades esportivas – como escalada, nado e trekking – com práticas técnico-científicas. Ao explorar cavernas, o espeleólogo recolhe dados e materiais que, depois, são analisados por especialistas, como geólogos, antropólogos e arqueólogos. “Foi essa interação entre diversas áreas o que me atraiu”, diz Paulo. Há ainda um viés ambientalista na atividade, que vê nas cavernas um patrimônio a preservar. “Caverna é um mundo cheio de vida: peixes, morcegos, aranhas, fungos…”

A espeleologia resgatou a ligação do professor com a natureza. Na juventude, Paulo costumava acampar na região de Visconde de Mauá, vila encravada no
alto da Serra da Mantiqueira, entre Rio de Janeiro e São Paulo, e era um assíduo frequentador das praias catarinenses. Mas a volta às matas, cachoeiras, grutas e cavernas de agora é acompanhada de uma consciência mais ampla. O espeleólogo não olha apenas para dentro das cavernas, mas também para fora, para o seu entorno, para as populações locais e sua interação com a natureza. “A gente da cidade tem muito o que trocar com essas comunidades. É preciso estar aberto a ouvir, sentar para um café, aprender essa forma de vida mais próxima da terra. E, ao mesmo tempo, ensinar a preservar esse patrimônio”.

A experiência teve reflexo no dia a dia do professor. “Passei a me preocupar com meu impacto na natureza e o que posso fazer para diminuí-lo”, diz. “Reduzi o meu consumo de água, trato o lixo doméstico e procuro transmitir essa preocupação aos meus filhos”. Essa consciência também extrapola para a sala de aula. “Os alunos, depois do Petar, são ‘picados pelo mosquitinho’. Voltam mais preocupados com o ambiental, com uma visão de mundo ampliada”, avalia. Para o ano que vem, ele e a professora de Geografia Michele Rodrigues estão estruturando um novo projeto pedagógico, sobre rochas e minerais. A dupla quer mostrar aos alunos que um simples pedaço de pedra pode ser um tesouro de informações sobre a história do homem e do planeta.

Até lá, Paulo espera seguir ampliando seu conhecimento. Ele ainda se considera um “aprendiz de espeleólogo” – mas um aprendiz que vai fundo. Literalmente.