A arte de falar Inglês em público

11/12/2019

Ao apresentar TED Talks, alunos em estágios avançados do Inglês exercitam bem mais do que apenas a habilidade da fala.

Para Gabriel Cruz, foi a ideia de que as drogas devem ser tratadas como questão de saúde pública, não de polícia. Para Luiza Gibran, a de que a liberação das armas de fogo pode agravar os índices de violência numa sociedade. Para Stella Patterson, foi a vontade de falar das diferentes maneiras que as pessoas têm de expressar o amor pelas outras, enquanto, para Aline Machado e Sophia Celine, foi a chance de refletir sobre aquele velho e temível conhecido: o constrangimento.

Em agosto, cada aluno da turma de CPE da professora de Inglês Natália Gatto teve a oportunidade de expor para os colegas fatos e opiniões sobre assuntos de seu interesse. Ora sérias, ora divertidas, as apresentações foram acompanhadas, em sua maioria, por slides, com fotos, gráficos ou citações, e marcadas pela linguagem informal, pelo tom íntimo e pessoal e pela breve duração, que são características do modelo das TED Talks: conferências destinadas à disseminação de ideias acerca dos mais variados temas (inicialmente focados em Tecnologia, Engenharia e Design, daí a origem da sigla) para o público não especializado. Entre eventos oficiais ou inspirados no modelo, o projeto já contabiliza mais de 3,2 mil apresentações registradas em vídeos, com mais de um bilhão de visualizações na internet. É um formato impactante de palestra, que o Departamento de Inglês do Vital começou, neste ano, a promover entre alunos dos estágios mais avançados, como meio de fortalecer o domínio do idioma.

“Há algum tempo, vínhamos estudando o Quadro Comum Europeu de Referência para Línguas (CEFR, na sigla em inglês), que define os níveis de proficiência de uma língua, e notamos que a habilidade da fala é avaliada hoje como algo mais amplo do que a capacidade de fazer discursos”, diz Mônica Lemos, coordenadora de Inglês. Segundo ela, em vez de discursos formais e tediosos (embora necessários em certas circunstâncias), o CEFR aponta que a proficiência na fala se manifeste em linguagens mais modernas ou próximas do cotidiano do estudante, como podcasts, por exemplo. “Mais importante que preparar o aluno para fazer um discurso diante de um avaliador é instrumentalizá-lo para o mundo fora da sala de aula”.

O modelo das TED Talks oferece uma boa alternativa ao processo de preparação dos alunos, já que trabalha características valorizadas pelas novas gerações, como a criatividade, a agilidade e a competência comunicativa como um todo, que envolve o uso inteligente de recursos visuais, boa oratória e até postura de palco. “Quem faz uma TED Talk não pode simplesmente ler um texto ou falar olhando só para o professor, tem de engajar o público”, diz Mônica, apontando que o grau de complexidade do formato é motivador. “Uma turma de CPE já tem proficiência quase plena no idioma; isso nos faz buscar novos desafios, para que eles continuem avançando”. (Vale notar que o Departamento também está promovendo TED Talks com turmas de CAE, um nível abaixo do CPE).

Eloquência e autoconhecimento
Para a professora Natália Gatto, o fato de os alunos poderem escolher os temas das apresentações contribui para o desempenho – e, consequentemente, para o aprendizado da língua. “A dedicação deles é maior, eles se preparam com mais afinco, ensaiam muito; a fala sai mais fluente, não fica presa ao vocabulário da sala de aula”, diz Natália. “Tudo isso porque são assuntos da experiência real ou algo em que eles realmente acreditam”.

Mônica confirma que a liberdade de escolha dos temas foi absoluta. “Eles podiam falar do que quisessem, mesmo de assuntos delicados; a única coisa que exigimos foi que tivessem o cuidado de apresentar dados para embasar suas opiniões”, diz a coordenadora. Foi o que fez Gabriel Cruz, que falou sobre políticas de combate às drogas de viés proibicionista. “Gostei de me aprofundar no tema, buscar dados que confirmaram o que eu achava: que a guerra às drogas é ineficaz”, diz o aluno, que ressalta, porém, que tal constatação não implica numa defesa da liberação irrestrita.

“Nunca fiz tanta pesquisa para um trabalho antes”, admite sua colega Luiza Gibran, que, para traçar um panorama sobre casos de violência com armas de fogo no Brasil e nos Estados Unidos, entrou em contato com organizações ligadas ao tema nos dois países. Mas o preparo de Luiza não se limitou ao conteúdo. Diferentemente de um trabalho escolar normal, diz a jovem, “a TED não pode ser só expositiva, tem de ter emoção, eloquência”.

“Precisa ter interação com a plateia”, concorda Stella Patterson, que apresentou um resumo das ideias do conselheiro matrimonial norte-americano Gary Chapman, sobre “as cinco linguagens do amor” (The Five Love Languages). Stella, assim como os colegas, relata ter treinado muito antes das apresentações. Para Laura Jordão, que falou sobre a importância da escrita, falar em público é algo “essencial para qualquer pessoa”.

Fernanda Motta, que fez uma apresentação sobre autoconfiança, nota outro benefício que as TED Talks trouxeram para quem, como ela, falou sobre assuntos de caráter evidentemente pessoal. Segundo Fernanda, ao preparar sua fala, ela foi entendendo melhor algumas situações que vivia e como se sentia. “Quando a gente escreve uma coisa, ela fica mais clara”, diz Fernanda. Constatação semelhante à de Renata Quadros, que usou sua apresentação para questionar a ideia de que ser um indivíduo mediano é ruim. “Eu não me sinto confortável falando dos meus sentimentos. A TED foi uma forma de falar de mim, sem falar só de mim”, diz a aluna.

Já Aline Machado e Sophia Celine sabiam que não falariam apenas de si mesmas: “Todo mundo se conecta com nosso tema: a sensação de awkwardness (constrangimento)”, diz Aline, que, com a colega, estudou sobre a tendência do ser humano de dar mais atenção às experiências negativas da vida e de se considerar o protagonista do mundo, para quem todos os olhos se voltam, o tempo todo. “Todo mundo se sente estranho às vezes. Nós até dissemos que, se ficássemos com vergonha na hora da apresentação, seria proposital. Era metalinguagem”, brinca a aluna.