Base de competências

11/12/2019

Para além do conteúdo, projetos do Fundamental promovem competências gerais, definidas como direitos do aluno.

O que um projeto escolar sobre alimentação e condicionamento físico tem a ver com outro sobre a antiga civilização maia? Em que eles se assemelham a pesquisas sobre a anatomia das plantas ou os sistemas do corpo humano? Por mais díspares que sejam, esses e outros projetos, aplicados em diferentes séries do Ensino Fundamental do Vital Brazil, têm algo em comum.

Para além do conteúdo de cada um, todos promovem certas competências que a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) estabelece como direitos de aprendizagem do aluno da Educação Básica. Competências como pensamento científico e crítico, comunicação, autoconhecimento e autocuidado, para citar apenas algumas. De acordo com a visão de educação proposta pela BNCC, mais importante do que o que o aluno precisa saber – conhecimentos, habilidades, atitudes e valores – é o que ele precisa saber fazer com tudo isso, para resolver demandas complexas da vida cotidiana. E, embora a Base tenha sido definida há apenas dois anos, esse enfoque nas competências como objetivo escolar tem sido marca do trabalho do Vital desde o início.

“A Base fortalece a intencionalidade dos nossos projetos, o saber onde estamos e aonde queremos chegar”, diz Vanessa Inagaki, coordenadora assistente do Fundamental I. Segundo ela, ainda que o Colégio já trabalhasse as dez competências previstas pela BNCC, o documento fornece uma matriz que contribui para um planejamento pedagógico mais assertivo, com uma evolução evidente dessas competências ao longo do Ensino Fundamental.

Dois projetos ilustram essa progressão. No segundo trimestre letivo, os alunos de 2º ano da professora Márcia Vieira dedicam-se a pesquisas sobre o mundo vegetal. Com o projeto Plantas ao Nosso Redor, eles aprendem que plantas são seres vivos, com anatomia e metabolismo próprios, e, como produto final, criam apresentações de PowerPoint sobre as partes das plantas: raiz, caule, folha, flor, fruto, semente.

As pesquisas são feitas em grupo nas aulas de Informática do Vital. Segundo Márcia, embora cada membro do grupo seja responsável por uma parte da planta, todos ficam juntos diante do computador e se ajudam quando chega a vez de cada um consultar a internet. “Uma importante competência trabalhada aí é a da cooperação, que nessa fase ainda é um aprendizado”, diz a professora. Mas a pesquisa em si também é competência a ser desenvolvida: “Eles já sabem usar o teclado e o mouse, sabem o que é a internet e o Google, sabem escrever; agora precisam aprender a unir todos esses conhecimentos para o propósito de adquirir conhecimento”.

Compare-se essa experiência com a das turmas da professora Ana Paula Piola, do 5º ano, que estudam a fisiologia humana. Também divididos em grupos – cada grupo responsável por produzir um podcast sobre um dos
sistemas do corpo humano –, os alunos já se mostram mais experientes em dividir tarefas entre si e fazem buscas mais sofisticadas na internet, com o uso correto de palavras-chave, aspas e outros recursos aprendidos. Mas não acaba por aí, como revela Ana Paula, ao relatar o dilema de um grupo de alunas que, após cotejar o que cada uma havia trazido de casa, em pesquisas
individuais, notaram um problema. “Eram duas informações contraditórias que elas tinham tirado da internet. Tomaram uma decisão: ‘Professora, vamos à biblioteca?’ Elas demonstraram senso crítico – sabiam que um livro seria fonte provavelmente mais confiável – e autonomia para chegar a uma solução”, diz a professora.

“Veja que esse nível de criticidade só aparece mais tarde”, nota Márcia Vieira.
“No 2º e 3º anos, eles ainda têm confiança quase absoluta no que leem, seja onde for”. Mesmo assim, é importante notar como, em maior ou menor grau, as mesmas competências foram trabalhadas nas duas pontas do ciclo: a pesquisa científica e a cooperação, mas também as competências da comunicação, da cultura digital (os alunos expõem seus conhecimentos via PowerPoint e podcasts) e também da argumentação. “Em trabalhos em grupo, nunca será tudo como eu quero; é preciso convencer os colegas”, diz Ana Paula.

O caminho de cada um
A mesma abordagem tem continuidade no Fundamental II. Tema de projeto do 6º ano, a civilização maia, que povoou a América Central entre 2600 a.C. e o fim do século XVII, oferece material rico de conteúdo – toda sua história, arte, arquitetura, matemática, escrita. Mas a riqueza maior está na vivência dos alunos, que exercitam a pesquisa, o trabalho em grupo, o repertório cultural, a comunicação (em dois idiomas), entre outras competências essenciais.

Outro exemplo é o projeto Nutrição e Movimento, que as professoras Priscilla Issuani e Larissa Wosniak, de Ciências e Educação Física, respectivamente, desenvolvem com o 8º ano.

O conteúdo é extenso. Em aulas teóricas e práticas, os alunos aprendem os
tipos de nutrientes presentes nos alimentos (carboidratos, gorduras, proteínas, vitaminas e minerais) e suas funções; o que acontece no corpo quando praticamos atividade física (por que nos cansamos, quais os efeitos de longo prazo); o que é metabolismo basal (“a quantidade de calorias que você consome só para existir, mesmo deitada no sofá vendo Netflix”, brinca Larissa); como ganhamos ou perdemos peso e – principalmente – como podemos tomar as rédeas desse processo. “Escolher uma atividade física depende do objetivo de cada um. É emagrecimento ou desempenho cardiovascular? São dois caminhos diferentes”, diz a professora.

Trata-se de projeto que vai muito além do conteúdo. O aluno aprende a se conhecer, a entender o próprio corpo e a cuidar dele (autocuidado), a partir dos seus objetivos (autonomia), recorrendo a habilidades como leitura de rótulos de alimentos e tabelas nutricionais e medição da própria frequência cardíaca – e se precavendo contra “soluções mágicas”, como certas dietas extremas que circulam na internet (pensamento científico e crítico). “Esse projeto trabalha pelo menos sete das dez competências da BNCC muito bem”, avalia Larissa.